5 de nov. de 2009

Na noite em que chorou .

Naquela noite ele chorou, já fazia algum tempo que não expunha para o mundo seus sentimentos. Nem conseguiu lembrar depois porque chorava, mas foi preciso tão pouco para emocionar. Apenas um pequeno vídeo, meia dúzia de instrumentos, uma voz grave ao fundo, o som das palmas no ritmo. O coração batia no mesmo ritmo, já não precisava mais criar o hábito, já estava enraizado nele.

Naquela noite ele chorou, não tinha certeza do que pensava, não tinha certeza de suas vontades e desejos, não sabia mais o que iria fazer. Era uma noite frustrante, era uma noite solitária.

Naquela noite ele chorou, chorou de vontade, de querer e não poder, de esperar e nunca chegar, de fazer tudo certo sem necessariamente conseguir o desejado. Foi um pouco de tristeza, um pouco de ansiedade, um pouco de saudade, um pouco de frustração.

Naquela noite ele chorou só de ouvir o berimbau.

4 de set. de 2009

A aprendizagem .

O sol acabara de nascer, um grande degradê solar estampando no ceu, o som do rio acalmava a tribo e, enquanto isso, os ventos frios da manhã balançavam as folhas do pé de guaraná. Um grito ao longe anunciava a hora de se levantar. Agora, só o som dos pés sobre a terra batida era ouvido.

Sentiu-se nervoso com as tarefas que aguardavam-no, parecia até com uma pequena criança com medo. "Mas logo hoje?" era o que pensava. Com um aceno se despediu da família e entrou na floresta. Teria algumas coisas pela frente, coisas que nem ao menos sonhara, umas mais simples e outras maiss complicadas. Mas no fim do dia todas deviam estar feitas.

Seu primeiro obstáculo exigia da sua audição. Precisava ouvir o farfalhar das folhas, rastro da sua caça, para que tivesse êxito e então ter um desjejum. Logo após seu café da manhã, o seu conhecimento geográfico da floresta estava em cheque. Necessitava achar uma pequena acerola na árvore. Tarefas simples, até então.

Por uma proeza inestimável identificou uma planta medicinal. Poderia vir a ser útil. Pena que tinha que provar, devia saber se era mesmo a planta certa. "Quanto pior o gosto, melhor", veio a voz de sua mãe lhe falando disto. Lembrou-se como que deveria achar a sua cura. Como tivesse levado uma facada, sua cara se contorceu de angústia, quando provou da planta. Sim, era a certa.

Agora seu coração batia muito forte. A cada passo que dava, tinha que respirar mais fundo. Parou por uim momento e sentiu um cheiro peculiar, mas quando se aproximou, o cheiro sumiu. Perdeu mais de vinte minutos ali, cheirando as plantas. No momento seguinte, sabia que deveria achar uma pequena fruta vermelha, na imensidão verde. Era a última tarefa e por consequência a mais difícil. Mas o fruto de sua experiência ajudou-no com a busca da fruta. Perdeu pouco tempo para terminar a última prova, o que lhe deu tempo o suficiente para voltar com calma à aldeia, antes mesmo do completo breu da noite.

Ao chegar na tribo, renunciou a todas as festas. Só queria agora descansar em sua branca rede, ao brilho do luar e das estrelas.


Escrito em parceria de Pedro Veríssimo Fernandes.

9 de jul. de 2009

Cavaleiros de terra alguma .

Eles não acreditaram quando eu terminei, acontece que era tudo verdade. Cada pequeno detalhe, cada grande movimento, cada energia gasta, tudo era verdade.

Era uma quarta-feira, ou talvez uma quinta... Quando voltei para casa, recebi a mensagem: "O Joninhas passou aqui, querendo te ver!" Joninhas é um grande amigo, ou melhor, um grande cavaleiro. Jonas Faustino Santos, é o nome real. Sem diminutivo e sem mais nem menos. Amigo deste é Christopher Puig. Outro grande heroi de guerra. Achei estranho, pois, fazia mais de mês que não ouvia falar no Jonas.

Quando saí de casa, encontrei-o. Alegre como sempre o foi, correu para sentar e me contar a história. Uma das mais mirabolantes e com certeza a mais extraordinária.

8 horas da manhã e o sol acabara de acomodar-se no céu, foram trocados alguns olhares e um abraço foi dado. Uma grande despedida, para quem estava atrasado. Joninhas e Kiko (Christopher) acabavam de se encontrar e traçar os últimos preparativos. Pé na estrada e mala nas costas, pedalando por algumas horas sem parar.

Era um grande plano, era uma grande viagem. Ambos os aventureiros passaram por grandes bocados. Por vezes, não tinham onde dormir, não tinham o que tomar ou comer. Não tinham muita companhia, mas tinham suas bicicletas. Correram com o vento que os levava litoral àcima.

Passaram por lugares lindos, por lugares feios e por lugares nem lindos nem feios. Conheceram muitas pessoas, ouviram e contaram várias histórias. Para descansar as vezes apenas encostavam alguns minutos nas estradas de terra. Em outraz vezes paravam em alguma linda praia apenas para admirar o pôr do sol.

Como Virgílio e Dante que desceram até o inferno, Jonas e Kiko desbravaram praias brasileiras. Era mais um plano louco quando bolaram a viagem há três anos atrás, mas hoje era realidade, concreta como suas bicicletas. Que inclusive foram quebradas algumas vezes.

Na metade do caminho conheceram outros dois desbravadores. Correram os quatro juntos. Eram um time agora, uma pequena família de pedaladores, digo, de grandes pedaladores.

Mas, por mais que eu insista, ninguém acredita quando eu termino de contar essa história, acontece que era tudo verdade. Cada pequeno detalhe, cada grande movimento, cada energia gasta, tudo é verdade.

A família continuou a pedalar, até que chegaram enfim ao destino. Saíram de São Paulo dois grandes amigos, chegaram na Bahia quatro almas felizes. Eram felizes por terem conseguido, por terem chego ao fim da primeira longa viagem. A primeira que sempre será lembrada, a primeira que muitos dirão que não é verdade. E a primeira, que como tantos dizem, é a única que nunca será esquecida.

Uma história verídica. Texto dedicado aos viajantes.

1 de mai. de 2009

Secreta admiração .

De um lado da linha encontrava-se um filho angustiado, ansioso, nervoso. Enquanto que do outro lado estava um pai tranquilo, calmo, como sempre estivera. A conversa foi bem breve, alguns minutos apenas, uma ou outra risada, um ou outro comentário, um ou outro assunto mais sério, uma ou outra suspirada. Mas foi só, uma conversa simples até. Mal desligaram o telefone, pai e filho pensaram sobre a conversa. O pai, ficou alguns segundos olhando para o nada, tentando guardar tudo o que sentiu durante a conversa. O filho, pensou sobre a conversa em alguns momentos do dia.

Como se nada tivesse acontecido, ambos se encontraram mais tarde, conversaram de novo sem nada de mais, viraram-se e foram deitar em suas respectivas camas.

Não é todo dia que ligamos para nossos ídolos apenas para dizer que os admiramos e nem será todo dia que dormiremos lembrando de termos feito isso.

23 de abr. de 2009

Ideias .

- O que você está procurando querido? Algum papel da empresa? Alguma conta para pagar? Algo que eu possa te ajudarr?
- Ahh! Meu amor, não vou precisar, estou procurando apenas algumas palavras.